sexta-feira, 27 de junho de 2014

Bachianas poéticas BWV 211-1127




BWV 211 [14]
Scheigt stille, plaudert nicht


Shhh! Quieto! Nem mais uma palavra!
Escuta! Pois canta o sabiá!
O dia é cinzento, mas já lavra
Seu gorjeio aqui... e acolá.
A sua melodia enreda a alma
Num sutil desejo inesperado:
Ai! Ai! Se a ventura fosse o fado,
Se o porvir só fosse paz e calma!
Se a dor não bulisse com viv’alma...


São Paulo, 04 de outubro de 2011
 



BWV 212 [17]
Mehr han en neue Oberkant


Um governador novinho em folha
Nos deu o destino brincalhão!
Quem o colocou lá que o acolha,
Pois veio p’ra o roubo e a corrupção,
Não podia ser de outra maneira...
Poluto é o caudal do qual deriva...
Há muito se foi a altaneira
Intenção, e já a ofensiva
Das coisas nefastas é certeira...


São Paulo, 04 de outubro de 2011
 



BWV 213 [27]
Lasst uns sorgen, lasst uns wachen


Ah! Vamos zelar e vigiar;
Quem sabe, quiçá, desta maneira
O mal nos não possa dominar
E o bem vença. Assim talvez Deus queira...
Como é estreita a senda do Senhor!
E larga a do Seu competidor!
Nada, sem esforço, sobe ao ar,
Mas, no fosso, cai tudo o que for...
Ah! Vamos zelar e vigiar!


São Paulo, 04 de outubro de 2011
 



BWV 214 [13]
Tönet, ihr Panken! Erschallet, Trompeten!


Oh! Soai tambores e trombetas!
Em compassos bélicos, soai!
Onde estais, estrelas e planetas?
A lua rachou, o sol se vai...
Ah! Os reis já são sombras, silhuetas,
Pois, eis! Já a face do Senhor
Encarna em Seu Verbo, redentor!
Ai! O mau se deita com capetas;
No peito dos justos: borboletas!


São Paulo, 07 de outubro de 2011
 



BWV 215 [28]
Preise dein Glüke, gesegnetes Sachen


Agradece tuas tantas graças
Tu, ó tu, saxão afortunado!
Por mais que só o bem no mundo faças,
E, por mais que fujas do pecado,
Jamais poderás agradecer
Todo bem que te houve receber!
Recebeste a vida eterna, o céu,
Teus filhos não são do povo increu...
Ah! Quanto concede Ele a quem crer!


São Paulo, 07 de outubro de 2011
 



BWV 216 [14]
Vergnügte Pleissenstadt


Ó tu, junto ao Neisse, venturosa
Cidade banhada pelo rio!
Por causa de Bach nos és famosa;
Quem fala teu nome nem te viu...
Se ao norte era o rio, qual era o sesmo
Ao sul, ao oeste, ao leste, qual?
Se o soubesse, tudo me era igual;
Vaguearia em ti dolente, a esmo...
Quanto ao Neisse... onde fica mesmo?


São Paulo, 26 de outubro de 2011
 



BWV 244a [20]
Klagt, klinger, klagt es aller Welt


Clamai, pequeninos, ó, clamai!
Dirigi ao mundo vossas vozes!
Que sossegue toda pena e ai,
Serenem as dores mais atrozes!
Eis que é vindo o Reino prometido,
Eis que dá-se a volta do Ungido;
Eis que terra e céu se fazem novos,
Eis que a redenção acolhe os povos...
Feliz quem por Deus houver sofrido!


São Paulo, 26 de outubro de 2011
 



BWV 249a [37]
Entfliehet, verschwindet, entweichet, ihr Sorgen


Oh! Fugi, sumi, cedei, tristezas!
É chegado o Dia da alegria!
Já se foi a noite de incertezas,
Brilha agora o pleno, eterno Dia.
Dia não seguido mais de noite.
Co’as luzes no céu todas acesas:
Não mais nos castiga o vil açoite
De buscar por Deus e não achá-Lo,
De achar que se O ama, e não amá-Lo...


São Paulo, 01 de novembro de 2011
 



BWV 249b [36]
Vergaget, zerstrenet, zerrüttet, ihr Sterne


Ó, afugentai! Ó, dispersai!
Ó, destruí, vós estrelas altas,
Os tantos engodos onde cai
Minh’alma mortal, com tantas faltas.
Ah! Minh’alma teme cada ai,
E as forças que busco, não encontro;
E as penas que eu temo, reencontro...
E a vida se vai, assim, se vai,
Quase só um engano... um desencontro...


São Paulo, 01 de novembro de 2011
 



BWV 1083 [37]
Tilge, Höchter, meine Sünde


Ó meu Deus altíssimo, apaga
Os pecados tantos que me afastam
Do céu de Teu Reino, da Tua plaga,
Pois, de Ti, meus erros – ai! – me arrastam.
Estende Tua mão, cheia de amor,
E, com Teu perdão, vem e me afaga.
Dá-me não temer o Teu temor:
Tua graça me impele a Ti, ó Deus;
Ajuda-me a ser dos filhos Teus...


Montevideo, café Hotel Oxford, 20 de fevereiro de 2012.
 



BWV 1127 [20]
Alles mit Gott und nichts ohn’ ihn


Sim, tudo com Deus, nada sem Ele;
Sim, pois fora Ele nada há!
Vou atrás do sonho, sonho aquele
Que fala do mundo que virá.
Ah, como outros tantos eu espero
Um mundo mais puro, bom, sincero...
Com Deus tudo é certo, tudo é justo,
Sem Ele o viver é grande custo,
Sem Ele o futuro é mal severo.


São Paulo, 1º de janeiro de 2012.


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