quinta-feira, 2 de novembro de 2017

3. Vita Brevis

Luis Henrique Beust







Dies Domini
D i a    d o   S e n h o r

Dies Amoris
D i a   d e   A m o r  







 Poesias
Celebração do Bicentenário
do Nascimento 
de Bahá’u’lláh 
(1817–2017)
e do Báb
(1819–2019)














Capítulo 3 
Vita Brevis
A   v i d a   é   b r e v e





















Desconheço este horizonte












Desconheço este horizonte
Que rumo é este, não sei...
Lá por trás daquele monte
É onde me perderei.
Onde foi que eu me perdi
Quando buscava por Ti?
Não sei, jamais saberei...

Me perdi quando buscava
A todo custo encontrar
A dor que eu antes chorava
Sem saber qu’ia passar.
Mas tudo passa na vida,
Este caminho de ida
Para o nosso eterno lar...


Campinas, 02 de novembro de 2017







Nesta terra sem palmeiras











Nesta terra sem palmeiras
Também canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
Também cantam como lá.
Aqui busco um estribilho
Que represente a beleza,
Mas como cantar direito
Todo o dom da natureza?

Deus permita que eu não morra
Sem poder voltar p’ra cá:
P’ra esta terra sem palmeiras
Onde canta o sabiá.

Outros cantos aqui ouço:
De quero-quero, será?
Ou foi este o bem-te-vi
Que canta aqui e acolá?
Só sei que sobre os ciprestes
Também canta o sabiá.

Busquei, no mundo, a Verdade,
Mas ela foge p’ra lá,
Para lá onde Deus mora,
Não se encontra ela por cá.
Mas tenho aqui os ciprestes,
Onde canta o sabiá.


Para Paulo Roberto de Araripe Sucupira
Tigre, Villa Victória, Argentina, 30 de novembro de 2010
 







Os tijolos bem vermelhos












Os tijolos bem vermelhos
Do muro da Recoleta,[1]
Sobrepõem-se desparelhos
Numa muralha obsoleta:
Quem cá está não quer lá ir;
Quem lá está não vai sair;
Cai a tarde, violeta...

A cidade dos mal-vivos
Circunda a dos bem mortos...
Foram-se os tempos lascivos,
Barcos chegaram aos portos.
Contemplam-se monumentos
Na tarde cheia de ventos...
(Galhos de figueira tortos.)

Os caixões ficam à vista
Em muitos dos mausoléus.
Ai! Em que hora imprevista
Esperam subir aos céus?
Não! O que é pó volta ao pó;
O que sobe aos céus é só
A alma por trás dos véus.

O cemitério é famoso
E abriga o pó de famosos.
Foi-se o riso, foi-se o gozo,
Todos estão silenciosos.
É assim com toda gente:
A morte vem de repente
E abate até os mais viçosos.


Buenos Aires, Livraria Ateneu, 08 de setembro de 2016


[1] A Recoleta é um famoso bairro em Buenos Aires, que se desenvolveu ao redor do centenário cemitério de mesmo nome.







Pegar ônibus lotado











Pegar ônibus lotado,
Bater ponto no trabalho...
Não é a vida um enfado?
Ou meu argumento é falho?
Ai! um dia empurra o outro;
Ou sofro neste ou nest’outro...
Suspiros mil eu espalho...

Este mundo é dos cupins,
Das traças e bactérias.
Mundo de pedras nos rins,
Só de trabalho e sem férias.
Alzheimer, câncer, trombose,
Sarampo, zika, artrose...
As dores tolas e as sérias...

Eta mundo sem valor!
Paradeiro de viagem...
Nos reserva enfado e dor
Com seus brilhos de miragem.
Mas, ah! serena, minh’alma!
Mantém o riso e a calma:
Só estás aqui de passagem!


Campinas–GRU (Florianópolis), 18 de fevereiro de 2016








Te envio logo as poesias











Te envio logo as poesias;
Amanhã posso estar morto!
Meus sonhos, mi’as heresias
Num inventário bem torto?
Deus me livre! Deus me guarde!
Enquanto a vida em mim arde
Faço da pressa um desporto.

Pode-se ir sem aviso!
E nunca sabemos quando...
Deus fez o fim impreciso
P’ra que sigamos amando,
Para fazermos bons planos,
Por tantos vindouros anos,
Sem ir desacelerando.

Soubéssemos dia e hora,
Medíocre seria a vida,
Pois sem a pressa do agora
Planejávamos a ida...
Mas como na selva as presas
Procuram ficar ilesas,
Driblamos nossa partida.


Para Gabriel Marques
Barueri, HP, 20 de julho de 2016









Os jardins das bisavós












Os jardins das bisavós:
Cheios de mato e de espanto!
São de um rebuliço atroz,
E uma fada em cada canto.
Neles só brota o passado,
Sempre há mistério enterrado,
Há fantasmas e acalanto...

No da Vó Carlota[1] havia
Um puxadinho assombrado.
Na grama preta eu descia
O declive acentuado.
Manchava de verde as calças,
De preto as meias descalças:
Punha o fantasma espantado!

No da Oma[2] era um regato
Rodeado de framboesas.
Os canteiros tinham trato,
E o sótão cem mil surpresas.
Croquete na grama rala,
Biscoitos na grande sala,
Os pés torneados das mesas...


Campinas, 15 de janeiro de 2016
 

[1] Carlota von Bock Schertel, mãe de minha avó maternal.


[2] “Oma” (vovó, em alemão): Ana Elizabeth Weidman Machemer, mãe de meu avô materno.









A vida não é bem reta











A vida não é bem reta,
Como estrada no deserto.
Não se avista, ao fim, a meta,
Pois há mil curvas, de certo.
A vida é estrada de serra:
Quem só olha à frente erra,
Sem saber do rumo incerto.
O horizonte se transforma
A cada curva da estrada.
O que é reto se deforma;
Nova visão nos é dada:
O futuro que se via
Ficou na curva que ia,
Escondida e postergada.

Assim é bem esta vida:
Não confies no futuro!
Toda subida ou descida
Sempre virá com apuro.
Larga, pois, o desatino,
Entrega a Deus teu destino,
Seja brando, seja duro.


Campinas, 25 de setembro de 2017









As casas que eu tanto amava












As casas que eu tanto amava
Desmoronaram todinhas.
Aquela que ali estava
Cobriu-a as ervas daninhas.
Em breve terá sumido,
Como o tempo foi vencido,
Quando eu lá vinha e tu vinhas...

Tão difíceis de erigir,
Mas tão fácil elas caem;
São feitas para o porvir:
Os risos lá sobressaem.
Mas vem o tempo da morte
E já muda a sua sorte;
Tijolos e almas se esvaem...

O que deixa em pé as casas
Não são pedras e argamassa...
Essas coisas são bem rasas
Para enfrentar a desgraça.
Casas são feitas de amor:
Enfrentam todo o rigor
Se o afeto nelas não passa.


Para minha irmã, Ana Cristina
Barueri, HP, 14 de setembro de 2016





Cabelos brancos na escova












Cabelos brancos na escova,
Os tornozelos sem pelos.
Não há o que as rugas remova:
O tempo despreza apelos.
Todo presente é ilusório,
Pois viver é provisório:
Vivo os momentos sem tê-los.

Vida é provisoriamente:
Futuro vira passado
Sem se deter no presente.
Como o coelho atrasado
Que Alice perseguiu,
O tempo que ninguém viu
Já me põe atarantado.

Tudo aqui é passageiro;
Nada muda a nossa sorte.
Tudo é baço, nada é inteiro;[1]
A certeza: só da morte.
Mundo de pó reciclável:
Só assim é sustentável
(Só o Além é firme e forte.)


Barueri, HP, 18 de maio de 2017


[1] Cf. Fernando Pessoa: Mensagem, Quinto/Nevoeiro — “Tudo é disperso, nada é inteiro”.







Em Santa Terezinha as ruas são gramadas












Em Santa Terezinha as ruas são gramadas
E as calçadas tem grama também, verdejante.
Quando chove os sapinhos entoam toadas:
“Ué, ué, ué, ué” tão triste e sapolejante.


Santa Terezinha, 19 de dezembro de 2009
Para Ana Cristina, minha irmã








Este momento passou












Este momento passou,
E passou este também.
Ademais, bem certo estou:
Passará este que vem.
Futuro passa apressado
Para já virar passado:
No agora não se detém.

O presente não existe,
Há só o futuro a correr...
Em ser passado ele insiste,
É lá que ele quer viver.
Eu também sou só passado!
O agora foge apressado,
O futuro é vir-a-ser.

Não conheço o que serei,
Não sei que será do mundo.
Mas esta certeza é lei:
O passado é bem profundo,
Recebe em si os milênios,
Os mil castigos e prêmios
Que o viver mostra fecundo.


Campinas, 04 de outubro de 2017








Sei que o Hoje é só um sonho












Sei que o Hoje é só um sonho,
O Amanhã uma esperança.
Hoje tem rosto medonho;
No Amanhã jaz a bonança.
Sei que o Agora nunca é;
Não para, não fica em pé:
Futuro vira lembrança.

O Presente é fugidio:
Não se assenta, não sossega.
Sente sempre que cumpriu
Seu papel, pois não se nega
Em mastigar o Futuro
E criar este monturo
De dor muda, surda e cega.

Sei que o Agora não existe;
Só há Futuro ou Passado.
O Futuro sempre insiste
Em se prostrar, alquebrado:
Ou vamos ser, ou já fomos...
Isto pede vários tomos,
Mas do tema estou cansado.


Campinas, 13 de junho de 2017







Os remédios, na gaveta











Os remédios, na gaveta,
Me dizem que sou mortal.
Pelas manhas do capeta,
Não penso que vou tão mal.
Esqueço as dores e a morte
E até julgo estar com sorte
Em estado terminal.

Tudo indica meu declínio...
De mi’a vida não sou dono.
Fica lerdo o raciocínio;
O cansaço, a fome, o sono
Me dominam como feras
(Esqueço quão bela eras!),
Minhas metas abandono.

Meu relógio marca as horas
Por inércia, sem pensar.
(Aquela flor que tu adoras
(Começa a desabrochar.)
Tudo segue, distraído,
Mas eu vou virando olvido...
(Solto um suspiro no ar.)

Não será triste o meu fim
(Ah! que venha de repente!);
P’ra morrer, ao mundo vim,
E a certeza tenho em mente:
Cada coisa que miramos,
Cada passo que nós damos,
Conduz a Ti, certamente.


Barueri, HP, 21 de julho de 2016








Sou dono do meu destino











Sou dono do meu destino,
Mas não sou dono sozinho.
Este latido alto e fino
É do cão do meu vizinho;
Esta é a sua liberdade:
Me rouba a serenidade,
Seu latido é como espinho.

Eu me levo aonde quero,
De pernas, carro, avião...
Mas o destino que espero
Nem sempre eu alcanço, não.
Tropeço... o avião cai...
Meu livre-arbítrio se vai
Levado por outra mão...

Há um cruzamento de fados
Neste universo complexo.
Perigos, por todos lados,
Vêm sem aviso e sem nexo.
Não decidi minha altura...
É Deus quem decide a cura...
Que me sobra? Estou perplexo...

Mas resta algo, afinal,
Que me torna mais devoto:
Escolho o bem ou o mal,
Escolho o filme... e meu voto.
Meu pecado é independente!
Sim... em nós vive a serpente,
Não num passado remoto.


Barueri, HP, 21 de julho de 2016








Traças comeram meus ternos












Traças comeram meus ternos
Ai! não um ou dois, mas cinco!
(Acaso os queria eternos?)
Tinham corte... tinham vinco...
As traças, tão pequeninas,
Me deram lições divinas:
Elas trabalham, e eu brinco.

Levam a sério este mundo
Que a sério eu não sei levar.
Se pensar, bem lá no fundo,
Elas merecem cevar,
Pois a vida que é eterna,
A existência sempiterna,
Não lhes é dada alcançar.

Vinde, traças! Desfrutai!
Saboreai todos meus ternos!
Não darei nem ui nem ai —
Quero panos mais eternos:
Uma roupagem de luz
(Tenho as meias... onde as pus?)
Que enfrente todos invernos.

O mundo pertence às traças!
Comem ternos e nações.
Envolvem em mil desgraças
Armários e corações.
São a desgraça do armário;
São a desgraça do Erário:
Dão-nos, todas, grãs lições!


Barueri, HP,  05 de julho de 2016









Incrível. Aqui neste mundo








Incrível... Aqui neste mundo,
Surpreende o destino das gentes.
Um chamava ao outro de imundo;
Odiavam-se em ódios ardentes.
Agora convivem patéticos
(Agora convivem poéticos?),
Nos nomes das ruas silentes.

Americana, School Picture, 02 de julho de 2012








Cada um tem sua cruz












Cada um tem sua cruz.
A minha cruz sou eu mesmo...
Não sei se lhe faço jus,
E assim sigo torto, a esmo.
Se digo que é leve, minto.
(Que cheiro é este que sinto?
(É de feijão com torresmo.)

Em mim mesmo subo e desço,
Voo alto e então afundo.
Depois é tudo ao avesso...
E me canso deste mundo.
Outros melhores sofreram
Tanto ou pior, e cresceram:
Seu eu melhor, mais fecundo.

É só quando a folha morre —
E se deixa ir ao chão,
E a água por cima corre,
E o vento vem de roldão —,
Que ela afinal transcende:
Ao que era não se prende
E não é mais ela não.


Campinas, 29 de setembro de 2017







Por que tanto o tempo passa?











Por que tanto o tempo passa?
Por que vive ele a passar?
P’ra trazer nova desgraça,
E eu desista de amar?
Cada dia é um novo tombo,
Mais paulada no meu lombo,
Mais um dia de amargar.

Mas... se penso bem direito,
O tempo que passa cura.
O rio corre no seu leito
P’ra deixar a água pura.
Se o tempo traz novas dores,
Também pinta novas cores,
Nunca peca por usura.

Importa é viver o “agora”,
É o que dizem todo o tempo.
Mas o agora foi-se embora!
Foi apenas passatempo...
O passado eu sei que tive,
O futuro existe e vive,
O presente é contratempo...


Barueri, HP, 16 de agosto de 2017








Lá fora a chuva crepita












Lá fora a chuva crepita
Um fogo todo molhado,
Pois seu barulhinho imita
Fogo no lenho cortado.
Tantas coisas são assim:
Passam por outras, enfim,
Burlam quem desavisado.

Isto acontece co’a vida,
Que não passa só de um sonho.
Um caminho só de ida
Disfarçado de risonho.
Vejo a vida bem matreira
Se uso a visão certeira,
Quando a ilusão eu transponho.

Nada mais é o que parece!
A glória é humilhação,
E a humilhação é benesse:
Não se foge dela não...
O que é de baixo é em cima,
E o que vinha lá por cima
Já não é em cima não...


Campinas, 25 de setembro de 2017








Ai! Ouvi Elis e chorei!












Ai! Ouvi Elis e chorei!
Como pode coisa tão bela?
Por certo a beleza era lei
Onde se criou e fez ela.
Ai! Por que tão cedo se foi?
Ai! Por que partiu sem notícia?
Veloz como um tchau, como um oi
Foi buscar adiante a delícia.
A delícia lá disponível,
Nos mundos que não conhecemos,
Num plano que é impossível
Aqui vislumbrar seus extremos.
Ficamos aqui mais soturnos
Sem seu riso largo e gentil;
Nossos afazeres diuturnos
Com menos doçura e anil.
Por sorte se gravou bastante,
E eu a tenho aqui do meu lado;
Mas o que ficou para adiante
Ah... ficou p’ra sempre enterrado.
Que triste que o Belo se vá!
Mais pobres ficamos por cá...


Campinas, 01 de julho de 2016








Deus! A flor que ali se abre












Deus! A flor que ali se abre
Transforma água em perfume;
E o cobre cria zinabre
Que lhe dá nobreza e lume.
Borboletas voam cores,
Bem-te-vis falam de amores,
O agrião tem azedume.

Lá detrás daquele morro,
Passa boi, passa boiada...
A oração é meu socorro
Nesta vida atravessada.
A chuva corre pro mar,
Com os rios a lhe embalar...
(E eu não penso mais em nada...)

Cada coisa tem porquê,
Neste mundo assenhorado.
(Quem te viu e quem te vê!
(Estás bem-apessoado!)
Só eu não sei qual meu fim,
Tudo é um mistério p’ra mim;
Olho o futuro... é passado...

Estrelas guiam os barcos,
Nos mares tão espraiados.
Governantes deixam marcos,
Uns em pé, outros tombados.
Só de mim não resta traço,
Pois o máximo que eu faço
São versos rotos, rasgados...


Para Bijan Ardjomand
Campinas, 03 de julho de 2016









Que leva junto consigo












Que leva junto consigo
Aquele que já morreu?
Uma coisa só, lhes digo:
O espírito que é só seu.
O bem do mundo é desdita,
Pois tudo no mundo grita:
“Eu pereço, eu pereço, eu...”

Por que a ganância vil
E o acúmulo de tanto?
Quem é rico ao ser senil?
Que riqueza tira o pranto?
Quase tudo vira pó,
Não adianta dor ou dó:
A morte é severo manto.

Passar a vida buscando
Tudo que não é eterno
Só trará desgosto quando
Vier da velhice o inverno;
Pois o consolo final,
O que abranda todo mal,
É livrar a’lma do inferno.

Não se entra no céu com joias.
Só se leva o que se deu.
Deste mundo, as mil tramoias,
Não servem a quem morreu.
Somente um coração puro
É diamante vero e duro:
Cada um lapida o seu.


Campinas, 15 de setembro de 2017







Tudo passa, tudo passa












Tudo passa, tudo passa;
Tudo... graças ao bom Deus.
A vida santa, a devassa;
Vão-se os teus sonhos e os meus.
O tempo nunca retorna:
Malha a vida na, bigorna,
De julietas e romeus.

O tempo tudo corrói,
Nada o pode resistir.
Ao homem logo destrói,
O sol parece seguir;
Mas também acabará:
Em mil eras morrerá...
Ninguém o pode impedir.

Esta vida é passageira,
Como o foi a lá do ventre.
O amor à vida é cegueira...
Ela é um triste vale entre
A vida pura da infância
E a vida de radiância,
Para quem tal vida adentre.

Esta vida é de transtornos:
Governo, imposto, estolho;
O apodrecer dos adornos,
As migalhas que recolho.
Cupins e traças destroem
E as coisas perdidas doem
Como um cisco no meu olho.

A vida é cheia de dores,
Ao todo: grande ilusão.
Por onde quer que tu fores,
Teus olhos sempre verão:
O novo virando velho,
Gente longe do Evangelho,
Pecados mil, a roldão.


Isso tudo é passageiro,
Da vida nada mais resta.
Todo gosto, todo cheiro,
Em seguida já não presta.
Sem fonte-da-juventude
A velhice não se ilude
E o fim já se manifesta.

O fim que é mero começo
Daquela outra vida, infinda.
Esta aqui é só tropeço,
Aquela é linda, é linda!
Fomos feitos para ela,
A que é soberba e bela...
(O que faço aqui ainda?)

“Ainda hoje estarás
“Comigo no paraíso”.[1]
Para isso morrerás,
Foi Jesus quem deu o aviso.
É morrendo que se nasce!
Veremos de Deus a face!
Não cabe ser indeciso.

Tudo, graças ao bom Deus,
Tudo passa, tudo passa.
Passam justos, fariseus,
(Quem em estado de graça?)
Fica a história e a lembrança
E fica sempre a esperança,
Que vence o mal e a desgraça.

Os mitos gregos nos contam,
De maneira encantadora,
Por que os males se amontam
Nesta Terra sofredora:
O mal saiu todo em dança,
Mas nos restou a esperança
No tal jarro de Pandora.[2]
Barueri, HP, 29 de janeiro de 2015 


[1] Lucas 23:43 — “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.

[2] No mito grego, Pandora foi a primeira mulher, criada por Hefesto e Atena, sob instrução de Zeus. Segundo o poeta grego Hesíodo (cerca de 770 a.C.), ela abriu um jarro (algumas vezes traduzido erroneamente como “caixa”) de onde todos os males do mundo saíram, restando, no final de tudo, apenas a esperança dentro, quando então Pandora fechou o jarro, guardando-a para consolo dos homens.












Do prazer que vem em ondas












Do prazer que vem em ondas
Não sinto falta ou saudade.
Nele há forças hediondas
Que se esfumam com a idade.
Antes cedo do que tarde
Morra esta chama que arde,
E arda o amor de verdade.

O amor na carne plantado
Não é amor, é só fome.
Faz juras, apaixonado,
E as deixa depois que come.
A paixão domina as gentes,
Tem-nas pobres, indigentes:
Assim como nasce, some.

Quero o amor sem interesse,
De um sorriso, de um afago.
O amor que eu só percebesse
Por um olhar tênue e vago;
Que fosse sutil e eterno
Como são verão e inverno,
Nuvens nadando em um lago.

Cansei das coisas concretas!
Quero só a fantasia!
Dispenso os planos e as metas,
Quero voltar de onde eu ia...
Os orgasmos desta vida
São só pontos de partida,
Como a noite é para o dia...


Barueri, HP,  08 de agosto de 2017








Meu relógio marca as horas












Meu relógio marca as horas;
Não desiste nunca, não.
Passa o momento em que choras;
Alegrias passarão...
O tempo insiste p’ra frente,
Meu peito faz diferente:
Ama os tempos que se vão.
  
Afinal... sou só passado!
Quer no corpo, quer na alma:
Um composto, um agregado
Feito com pressa ou com calma.
Meu corpo é o que eu comi,
Minha alma o que eu senti...
(O que já passou me acalma.)

O futuro é perigoso:
Há tanto mal e eu sou fraco.
Satanás é ardiloso,
Imigo esperto e velhaco.
O que fui eu já bem sei,
Mas não sei o que serei...
(Porvir de luz, ou opaco?)

O tempo não retrocede;
Só segue em frente, impassível...
Do momento que o antecede
Nasce o presente visível.
Semente no tempo posta
No seu tempo dá resposta:
Que seja a melhor possível...


Barueri, HP, 21 de julho de 2016









Quer conhecer a pessoa?












Quer conhecer a pessoa?
Examina o seu sapato.
Não dirá se é ruim ou boa,
Isso exige outro aparato.
Mas o calçado, em verdade,
Mostra a personalidade
Já a revela no ato...

O cachorro, igualmente,
Tem sempre a cara do dono.
Anda ao lado, anda em frente?
Sempre alerta? Sempre em sono?
Assim, o sapato e o cão
Revelam o coração
Sem mentira e sem abono.

Finalmente, os funcionários
Têm o jeito do seu chefe.
Se houver problemas vários,
Ou conduta mequetrefe,
Não adianta reclamar:
O chefe não sabe dar
Solução, senão um blefe.

Sapato, cão e empregado
Revelam com quem tu lidas.
Ninguém já foi enganado
Cuidando as coisas devidas.
O inconsciente se revela
Nas coisas da vida; nela!
Se forem só percebidas.


Para Stélio Granucci
Barueri, HP, 14 de junho de 2016

 








Ai! Tanto tempo na vida











Ai! Tanto tempo na vida
Para ler Guimarães Rosa,
Degustar Mário Quintana,
Sorver Fernando Pessoa,
Beber Machado de Assis...
Ou mergulhar em Shakespeare,
Ou reverenciar Vieira,
Ou passear com Drummond...
Ou também para escrever
As diminutas poesias...
Mas há o imposto de renda,
Com prazo claro e finito;
A negociação da dívida
Com a santa Prefeitura;
A dívida, e seu processo,
De um terreno já vendido;
O banco online não funciona;
Há meses que não funciona;
A carta de motorista
Retida, por muitos pontos;
O carro para na estrada;
A casa chove p’ra dentro;
As plantas têm cochonilhas;
As noites são sem estrelas,
Os cachorros muito latem,
As motos fazem barulho,
Os chefes da nação roubam
E, milionários, somentem.
Facínoras religiosos
Afastam de Deus os homens;
A fé dos homens é mito.

O tempo do que é grandioso,
Roubado pelo mesquinho.
Ai! O tempo que não volta...


Campinas, 4 de abril de 2015






Nenhum lugar se compara












Nenhum lugar se compara
Àquele em que fui feliz.
Não qualquer um, não, repara:
Ao que me tinha petiz.
Lá a luz não tinha sombra
(Isso é coisa que me assombra!),
Me safava por um triz...

Os sofrimentos adultos
Não existiam p’ra mim.
Permaneciam ocultos,
Pois meu mundo tinha fim.
Não tinha dor ou receio,
Pois no meu mundo, no meio,
Habitava um Serafim.

Nas paragens da inocência,
As casas nas quais vivi,
O mal não tinha existência,
E sim a paz que eu perdi.
Bebês vinham do repolho,
O choro era um cisco n’olho...
A dor cresceu... e eu cresci...

É no Éden que se vive
Se a infância é sem violência.
As casas por onde estive
No início da existência,
Cada canto, cada armário,
É um altar, um santuário,
Que me livrou da demência.


Barueri, HP, 21 de setembro de 2016









Os Sopros e Danças Antigos












Os Sopros e Danças Antigos
De Respighi[1] são tão belos!
Como é bom estarmos vivos
Para ouvir tocar os cellos!
Música é só um vibrar:
Ondas correndo no ar...
Mas toca, n’alma, os anelos!

Há músicas para o alto,
Há outras que são da terra.
Uma, da paz um arauto;
A outra conduz à guerra.
Esta, só paixão engrena;
Aquela é doce e serena:
Verde do alto da serra.

O homem a música faz?
A música faz o homem?
Depois do instante fugaz
Os sons tão rápido somem...
Como nós, em nossas vidas,
Com nossas vindas e idas
Que os instantes logo comem.


Para Bijan Ardjomand
Campinas, 03 de julho de 2016


[1] Ottorino Respighi (1879–1936).












Subiram cheiros de terra












Subiram cheiros de terra
Assim que a chuva caiu.
A chuva cai e não erra,
Criando perfumes mil.
Sinto o cheiro de outros dias,
Com mais risos e alegrias,
Com nuvens em céus de anil.

Eram tempos mais felizes?
Certamente, em grande parte:
Coração sem diretrizes,
A vida imitando a arte.
A vida não tinha medos,
E os sabores mais azedos
No sonho tinham descarte.

Era um tempo de inocência,
De meninice descalça.
Não tinha a menor consciência
De ser a vida tão falsa.
Os Natais eram reais,
Max und Moritz[1] e outros mais,
Sonhos que a infância realça.

Mas assim como era então,
Há o cheiro da chuvarada!
Chuva se espalha pelo chão...
A fragrância esverdeada...
Meu peito, por dentro, geme.
Mas minh’alma nada teme;
Não temo a morte nem nada.


Retifico o que eu dissera:
Sou bem mais feliz agora!
Se inocente, eu bom não era...
A bondade se aprimora:
Bondade e pureza vêm
Do esforço, e não se detêm
Se a inocência vai-se embora.

Tenho muitas cicatrizes
Desta luta tão tremenda!
Arranquei minhas raízes
E me plantei noutra senda.
Quando cai a chuva boa
Deixo-me molhar à toa...
Quem tem olfato que entenda...


Para Jessica e Marcos Tabacow
Sitio Humaitá, 27 de dezembro de 2015


[1] Dois personagens de histórias ilustradas para crianças criados por Wilhelm Busch e publicadas pela primeira vez em 1865.









Ai! Mundo de mil facetas!











Ai! Mundo de mil facetas!
Ai! Mundo de mil olhares!
Uns o olham com caretas,
E é belo a outros milhares.
Um só mundo e tantas vistas,
E eu nisto busco umas pistas
P’ra compreender os meus pares.

Meus tantos pares humanos,
Impossíveis de contar.
Quais suas metas? Quais seus planos?
Gostarão de poetar?
Ai! A missão é impossível!
A diferença é invencível,
Não há como nos juntar!

O mundo é muito diverso!
Loucura tentar uni-lo.
Todos têm o seu inverso,
Um quer isso, outro, aquilo.
Unir o mundo, p’ra quê?
Fique-se vendo TV,
Cada qual no seu estilo.

Fique cada um num canto,
Falando o seu dialeto.
Desse jeito, enquanto eu janto,
Outro tem café dileto.
Sem misturas, vamos bem,
Pois os humanos não têm
Algo a todos predileto.

Se a vida nos fez distintos,
É para não nos mesclar.
Se seguirmos os instintos,
Cuidaremos de abraçar
Só quem for igual a nós,
Sem a misturança atroz
Com gente de outro lugar.

A pátria mesmo, é enorme,
Não compõe uma unidade.
É uma construção disforme,
De grande perversidade.
Como misturar os pobres
Com os poucos que são nobres
Sem se ter calamidade?
E há também negros e brancos,
Cristianismo e candomblé,
Paralíticos e mancos,
Gente sem Deus e com fé.
Sulistas e nordestinos,
Gente louca, em desatinos,
Gente sem mão e sem pé.

Como mesclar isso tudo
Num todo bem coerente?
(O alegre e o sisudo)
Em algo que vá p’ra frente?
A pátria é coisa inviável,
Jamais seria agradável
Ter em volta tanta gente.

O estado ideal, na certa,
Para o homem ser feliz,
Não é sociedade aberta,
Mas o que o coração diz:
Só confie na família,
Pais e filhos são a ilha,
A salvadora raiz.

Mas sempre a esposa incomoda,
Os filhos são uma peste...
Família também é moda,
Que a gente veste e desveste.
Melhor mesmo é estar sozinho,
Bem contente no seu ninho,
Sem parente cafajeste.

Mas estar só é problema,
O corpo todo difere!
Diversidade é um dilema,
É coisa que mata e fere!
Mãos, olhos, braços e pernas,
Os pés e as coisas internas...
E nada que não se altere!

No corpo, há que escolher,
Quem pode ser seu amigo.
Isolar o bem-querer,
O resto é tudo perigo!
Não confie na cabeça!
Antes que o mal aconteça,
Ame apenas seu umbigo...


Campinas, 29 de janeiro de 2015








Cansei da vida cansei












Cansei da vida cansei!
Não quero fazer mais nada.
Por aqui o transtorno é rei,
E a injustiça é sua amada.
Seu filhote é a maldade,
Vil, sem dó nem caridade,
Ai! família endiabrada.

Cansei de viver, cansei.
Em nada mais vejo graça.
Se sorri ou se chorei,
O fato é que tudo passa.
Não, não é que eu só quisesse
Que coisas boas Deus desse:
Mas há sobra de desgraça.

Cansei de ser u’a consciência:
Vou beber o Lethe inteiro![1]
Então não terei ciência,
Como um poste ou um coqueiro.
Não saberei dos absurdos,
Os ouvidos serão surdos,
Tudo sem cor e sem cheiro.

Quero sumir como “ser”!
A dor que me cerca oprime!
Tudo pode acontecer,
Cada dia traz um crime...
Crime não: calamidade!
Feita sem dó nem piedade...
Gente que se não redime...

Ó Deus, apaga a noção
Que tenho de ser alguém!
Seja da terra um torrão,
Que, sem consciência, vai bem...
Ou seja eu só uma avenca,
Uma banana da penca,
Mas sem consciência, sem, sem...


Barueri, HP, 29 de janeiro de 2015


[1] Lethe, ou Lete: mitológico rio do Hades, o mundo inferior (inferno) dos gregos. Quem bebia de suas águas era abençoado com o esquecimento.










Ai! Uma foto apagada











Ai! Uma foto apagada
De quando eu era bem jovem,
Co’a visão equivocada
Que os parcos anos promovem.
A vida seria bela
Só porque estava nela:
Os problemas se resolvem...

Foi-se o tempo e a juventude,
Vieram dias sombrios.
À frete, a decrepitude
(Avisto mares bravios),
A vida, que era só riso,
Cobrou caro ao dar o siso...
(E a água passa nos rios...)

Valeu cada ruga e ai?
Aprendi com minhas cãs?
Ou como a brisa que vai
São vazios meus amanhãs?
Quase tudo vale a pena,
Se a alma não é pequena...[1]
Mas que fim leva as anãs?

Hoje sei que sou menor
Do que eu julgava que era...
Sou meu inquisidor-mor:
Já me vi a besta-fera.
Mas se vou me apequenando,
O certo é que vou Te amando
Cada vez mais!
Quem me dera...


Campinas, 03 de julho de 2017


[1] Parodiando Fernando Pessoa: Mensagem, Mar Português — “Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”.










Esqueci de ser feliz











Esqueci de ser feliz
Nalguma esquina da vida.
Não me matei por um triz:
Tinha um anjo de guarida.
Neste mundo há tanta dor!
O que nos salva é o amor,
Pois com ele a dor se olvida.

Mesmo infeliz sou feliz,
E estou bem vivo se morto.
“É loucura!”, o povo diz,
Quando me veem absorto.
Neste mundo a vida é morte,
E se invertem sul e norte,
E tudo que é reto é torto.


Barueri, HP,  03 de abril de 2019











Sou poeta e prisioneiro











Sou poeta e prisioneiro:
Sou preso do português.
Só nele me sinto inteiro,
E trancado no xadrez.
É a pátria de Pessoa,
Certamente é coisa boa,
Assim bem creio. Tu crês?

Leio Quintana e Bandeira,
Camões, Dias e Drummond;
Assim, Rosa (a voz primeira)
Me trazem o belo e o bom.
Mas eu queria bem mais...
Sim, outras terras natais,
Das quais dominasse o som.

Já poetar em alemão,
Língua doce na poesia,
Já em francês, catalão,
Por infinitos sons me ia...
Sou poeta e prisioneiro...
Nem os sons do mundo inteiro
Me livravam da asfixia.


Campinas, 21 de julho de 2019









Foi-se tanto que eu amava











Foi-se tanto que eu amava,
Mas retenho na memória:
A casa que ali estava
Faz parte da minha história.
Tinha sacada e lareira,
Em volta uma mata inteira;
Era nobre em sua glória.

Venezianas verde-escuro
E um coração recortado.
Neles o sol brando e puro
Tinha o brilho formatado.
E, assim, toda manhã bela,
De corações na janela,
Velava o terrível fado.

A casa há muito sumiu,
Numa morte e inglória.
Quem lá chorou, e quem riu,
Faz parte da minha história.
Nos jardins eu divagava...
Foi-se muito que eu amava,
Mas sobrevive a memória.


Campinas, 22 de julho de 2019








Arqueólogo de mim











Arqueólogo de mim,
Reviso meus sentimentos;
A escavação não tem fim,
Buscando meus sedimentos.
Estudo meus esqueletos,
Separo pedras, gravetos,
Honrando todos fragmentos.

Arqueólogo de mim,
Meus cadáveres reviso.
Se busco tanto, por fim,
Talvez alcance algum siso.
Tiro a terra dos achados,
Os meus cacos enterrados,
Onde mi’as dores diviso.

Arqueólogo de mim,
Reconstruo-me de cacos.
Descubro se não, se sim,
Me encontro nestes buracos.
Sinto pena e sinto dó,
Pois do que fui restam só
Fragmentos mudos e opacos.


Campinas, 22 de julho de 2019








Quem me conta o amanhã?











Quem me conta o amanhã?
Quem adivinha o meu fado?
Será uma vida chã,
Será um destino alçado?
No mundo, tanto mistério!
Ora é travesso, ora sério...
E me tem tonto, abestado.

Quem me conta o amanhã?
Quem me ajeita para a sina?
Será, a vida, vilã
Ou uma bênção divina?
Que vale saber ou não,
Se o fado vem de roldão,
Antes que a consciência atina?

Quem me conta o amanhã?
Quem me abre o grão segredo?
Ficará minh’alma sã
Ou perdida no degredo?
Não sei, não sei, nunca sei
O que afinal serei...
É isso que me põe medo.


Campinas, 12 de outubro de 2019












Tenho um espinho na carne











Tenho um espinho na carne,
Assim como o teve Paulo.[1]
E a menos que eu reencarne,
Seguirei só sendo Saulo.
Mas temo a Deus, pelo espinho,
E num canto, bem sozinho,
Os crespos de mi enjaulo.

Deus transforma o fogo em água,
Por misericórdia Sua;
Todo erro, toda mágoa,
Ficam brandos como a lua.
Já não choro, não suspiro;
A vida segue seu giro
Até que a morte a conclua.


Campinas, 13 de outubro de 2019








Por ali não vou, não vou











Por ali não vou, não vou!
Pois não quero me perder.
Fico melhor onde estou,
Zelando pelo meu ser.
Sou tão fraco, pequenino;
O mundo é torpe assassino,
Não vou daqui me mover.

Alcancei estas montanhas,
O Gramado dos meus sonhos!
Se tu vens, se me acompanhas,
Já não há riscos medonhos.
Este é o Lake District do céu,
A Praga por trás do véu,
Sem nenhum penar tristonho.

Eu te amo tanto, tanto,
Mas aquela trilha, não.
Não me chames, não, de santo:
Uso apenas a razão...
Se não vens, vamos sozinhos,
Cada qual por seus caminhos;
Que horizontes se abrirão?


Campinas, 18 de outubro de 2019








Queria uma trovoada











Queria uma trovoada,
Mas foi só um avião...
Uma chuva bem pesada,
Mas nem um pingo no chão...
Preciso de chuva forte,
Que me embale e me conforte
E alegre o meu coração.

Em Gramado é que aprendi
A amar assim a chuva.
Chovia na mata, ali,
Chovia na capiúva.
Se havia chuva e sol:
Casamento de espanhol;
Se ao contrário, de viúva.

E na sala aconchegante,
Eu lia a não mais poder.
Nunca a chuva era bastante
(Vez em quando eu ia ver!).
Trovões e raios constantes,
Imensos, amplos instantes...
(Isso sim era viver!)


Para Shideh Bartar Isfahani
Campinas, 18 de novembro de 2019





[1] II Coríntios 12:7 — “E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar.”


















Um comentário:

Wanderlea Morandi disse...

Adorei 👏👏👏👏👏👏